Pelo menos 2,4 milhões de famílias beneficiárias vivem em cidades onde não conseguem comprar a cesta básica com o total do Auxílio Brasil.
Os beneficiários do Auxílio Brasil têm encontrado dificuldades para comprar cesta básica.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica na capital paulista custava em média R$ 749,78 em agosto – R$ 149,78 a mais do que valor recebido por 710 mil famílias beneficiadas pelo programa, segundo dados do Ministério da Cidadania de setembro.
A lacuna entre o mínimo necessário para viver e o auxílio também é sentida em outras 11 capitais mapeadas pelo Dieese. Somente em cinco estados o benefício é suficiente para comprar uma cesta básica.
Veja, no gráfico abaixo, quanto custa uma cesta básica nas capitais – e onde os R$ 600 não são suficientes para comprá-la.
Estado |
Valor da cesta básica |
São Paulo |
R$ 749,78 |
Porto Alegre |
R$ 748,06 |
Florianópolis |
R$ 746,21 |
Rio de Janeiro |
R$ 717,82 |
Campo Grande |
R$ 698,31 |
Vitória |
R$ 697,39 |
Brasília |
R$ 689,31 |
Curitiba |
R$ 685,69 |
Goiânia |
R$ 660,83 |
Belo Horizonte |
R$ 638,19 |
Belém |
R$ 634,85 |
Fortaleza |
R$ 626,98 |
Recife |
R$ 598,14 |
Natal |
R$ 580,74 |
Salvador |
R$ 576,93 |
João Pessoa |
R$ 568,21 |
Aracaju |
R$ 539,57 |
A diferença no poder de compra do Auxílio Brasil é o custo de vida em cada região pesquisada pelo Dieese.
Num estudo publicado no ano passado, o coordenador Naercio Menezes, deixou evidente como benefícios sociais podem ter impactos distintos nos orçamentos familiares de diferentes regiões.
Realizado com base nos preços de abril de 2021, o levantamento mostrou que um habitante do Ceará precisaria de R$ 134 mensais para comprar alimentos e consumir as calorias necessárias. Em São Paulo, esse valor subia para R$ 180 – ou seja, uma família com 4 pessoas precisaria de R$ 736 para comprar a quantidade de comida necessária.
“Os R$ 600 (do Auxílio Brasil) não são suficientes para a pessoa que mora na região metropolitana de SP comer o suficiente e ter as calorias necessárias, por isso que tem a volta da fome”, diz Naercio. “Eu defendo os valores diferenciados porque o custo de vida é diferente”, afirma.
O superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que, antes de discutir valores diferentes por regiões, o país precisa se debruçar sobre dois pontos: modular o programa com base na composição familiar e melhorar o Cadastro Único.
“A composição expõe as famílias a maiores desafios. Quanto mais crianças, mais apoio você deveria ter do estado. Talvez seja a variável mais definidora do programa” afirma Henriques, que foi um dos criadores do programa Bolsa Família.