Há mais de três décadas analisando, assinando e preparando publicações das demonstrações contábeis (ou então demonstrações financeiras) de empresas de médio e de grande porte, aprendi que a Contabilidade, como fonte de informação, passou por mudanças significativas nas últimas décadas.
Acompanhei fases importantes dessas mudanças, o que me proporcionou significativa experiência profissional. Vi as antigas formas de lançamentos em fichas Kardex, onde eram registradas analiticamente as transações nas diversas contas de clientes, estoques, despesas, receitas, ativo imobilizado e tantas outras contas patrimoniais e de resultado.
Acompanhei também a transição para os sistemas informatizados e, logo depois, para o modelo digital e integrado. Esta última mudança veio acompanhada da utilização de sistemas integrados de controles internos, conhecidos atualmente como ERP (Enterprise Resource Planning). Estes são considerados sistemas inteligentes. Todavia, do meu ponto de vista, a inteligência não é deles, mas sim de seus analistas e desenvolvedores. Esta questão para mim está resolvida: a inteligência é humana, que determina aquilo que a máquina deve fazer. Ponto a seguir.
Em relação à utilização desses sistemas, altamente produtivos do ponto de vista operacional, há uma questão pouco esclarecida: quem analisa os comandos que cada módulo utiliza em determinada operação?
Em uma empresa grande isso é praticamente impossível, tornando a Contabilidade refém das origens dos registros de cada módulo utilizado pela empresa. Em outras palavras: a Contabilidade não controla o que é registrado e não tem como verificar, com total segurança, se aqueles registros estão absolutamente corretos.
A próxima etapa desse processo evolutivo será a Contabilidade em “nuvem”, processo este que já está em desenvolvimento avançado.
Acontece que cada vez que há um avanço tecnológico nessa área, diminui mais ainda a possibilidade de a Contabilidade ter algum controle sobre os inúmeros registros que são feitos diariamente, sem que os profissionais da área tenham qualquer participação. Imagine as transações de um grande banco, com múltiplas atividades. Como fazer para acompanhar cada operação de todos os clientes desse banco? Eles utilizam cartões, transferências de valores (TED, DOC, PIX) , aplicações financeiras, financiamentos, seguros etc.
No curso “Gestão integrada de controles internos”, de minha autoria, disponível na plataforma Ûdemy, faço referência a esses módulos e comento sobre a importância da integridade deles para que haja segurança dos registros efetuados na Contabilidade.
Não seria demais afirmar que a Contabilidade está sendo controlada, e que a fidedignidade de seus registros depende do que acontece nas origens desses lançamentos (principalmente nos módulos estoque, financeiro, fiscal, patrimônio, faturamento, RH / folha de pagamento e produção).
Fica uma interrogação: será que tudo isso vai melhorar a segurança dos registros contábeis no futuro?
Particularmente, tenho muitas dúvidas.